Perfil energético – Bolívia
Matriz de combustível (combustíveis fósseis versus renováveis)
A matriz energética da Bolívia é dominada por combustíveis fósseis. O gás natural (50%) e os derivados de petróleo (31%) forneceram a maior parte da energia do país em 2020.[1]
Em 2021, a agência nacional de eletricidade da Bolívia, ENDE, anunciou sua intenção de gerar até 80% da energia do país a partir de fontes renováveis até 2025.[2] No entanto, em 2020, quase dois terços da eletricidade da Bolívia ainda era gerada a partir de combustíveis fósseis (65%), com 29,3% adicionais provenientes da energia hidrelétrica, 2,5% da solar, 0,6 % da eólica e 2,6% de outras fontes renováveis.[1][3]
Emissão de gases de efeito estufa
Declarações do governo boliviano afirmam que a mudança climática foi desencadeada pelo "sistema capitalista falido".[4] Mas a meta de emissões de gases de efeito estufa boliviana foi amplamente criticada por ativistas ambientais locais, que afirmam que a NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) não é suficiente para proteger o meio ambiente da Bolívia.[5] A Bolívia testemunhou um aumento exorbitante de 503,48% nas emissões de gases de efeito estufa: de 102.900 em 2010 para 620.981 em 2011.[6] De acordo com a AIE (Agência Nacional de Energia), a Bolívia emitiu 21,04 milhões de toneladas métricas de CO2 em 2018, um aumento de mais de 300% em comparação a 1990.[7] A Bolívia não atualiza sua meta de contribuições desde outubro de 2015 e, a partir de 2021, é previsto um aumento nas emissões per capita. [8] A Bolívia também afirma que não é possível abordar de forma adequada a mudança climática sem o desenvolvimento de capacidade, desenvolvimento tecnológico e responsabilidade histórica adequados.[9]
Agências governamentais e outros players principais
Ministério nacional de energia
O setor energético boliviano, quase totalmente nacionalizado, é liderado pelo MHE (Ministerio de Hidrocarburos del Estado Plurinacional de Bolivia) e, de acordo com seu website, tem por missão criar políticas que promovam o desenvolvimento integrado do setor energético, de forma equitativa e em sintonia com a Mãe Terra.[10]
Agências licenciadoras
A MMAyA (Ministerio de Medio Ambiente y Agua) é a agência nacional responsável pela emissão de licenças ambientais. O objetivo da Bolívia é simplificar seu processo de licenciamento para novos projetos de mineração.[11] A AJAM (Autoridad Jurisdiccional Administrativa Minera) é responsável pelas licenças de licenciamento e de exploração.[12]
Agências regulatórias
Os principais órgãos reguladores da Bolívia são: A AE (Autoridade de Fiscalização e Controle Social de Energia), o Vice-Ministério de Eletricidade e Energias Alternativas e o Vice-Ministério de Tecnologias de Alta Energia.[13] O setor de eletricidade na Bolívia é regulamentado pela Lei de Eletricidade 1604 e pelos padrões operacionais propostos pelo Comitê Nacional de Despacho e depois aprovados pela AE.[13] A indústria de mineração é regulamentada pela Lei de Mineração e Metalurgia n° 535, de maio de 2014, que descreve os procedimentos para direitos de mineração, direitos administrativos, perda de direitos de mineração e tributação de mineração.[12] Adicionalmente, todos os projetos de mineração também devem obter a aprovação dos órgãos ambientais da Bolívia.[12] A AJAM também desempenha um papel na regulamentação.[14]
Empresas concessionárias de energia elétrica
A ENDE (Empresa Nacional de Electricidad) é responsável pela execução das políticas elétrica e energética.
Companhia petrolífera nacional
A YPFB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos) é a empresa estatal responsável pela prospecção, exploração, refino, industrialização, distribuição e comercialização de todos os produtos de petróleo e de gás natural.[15][16]
Uso de eletricidade
Capacidade instalada
Em 2020, a capacidade elétrica instalada da Bolívia foi de 3712 MW.[1]
Produção
A SIN (Sistema Interconectado Nacional) é responsável pela maior parte da energia elétrica produzida na Bolívia. O restante é produzido em Aislados (sistemas fora da rede).[17] As empresas operando dentro do SIN só podem atuar em um dos ramos de energia elétrica: geração, transmissão ou distribuição.[17] A TDE (Transportadora de Electricidad) e a ISA Bolivia são as principais empresas transmissoras dentro no SIN.[17] Os Aislados mais importantes são a SETAR (Servicios Eléctricos Tarija), a ENDE (Empresa Nacional de Electricidad) e a CRE (Cooperativa Regional de Electricidad). Em 2020, 61% do SIN e 93% da capacidade elétrica dos Aislados são alimentados por combustíveis fósseis.[18]
Em março de 2022, a Bolívia começou a exportar eletricidade para a Argentina através da linha de transmissão elétrica Juana Azurduy de Padilla 132 kV, tornando-se exportadora de eletricidade pela primeira vez.[19]
Demanda
O PEVD da Bolívia (Programa Electricidad para Vivir con Dignidad) tem por objetivo expandir continuamente o acesso à energia elétrica na Bolívia até atingir o acesso universal.[20] No período de 2014 a 2019, 4.300 domicílios foram conectados à rede elétrica na Bolívia.[21]
Consumo
Os bolivianos consomem um total anual de 7,79 bilhões de kWh em todo o país, o que perfaz um consumo per capita de 676 kWh/ano.[22]
Carvão na Bolívia
A Bolívia não produz, consome ou importa carvão.[23][24] A Bolívia não tinha novas projeto ou fontes de carvão em 2021.
Petróleo e gás natural na Bolívia
Produção interna nacional
A Bolívia é o maior produtor e exportador de gás natural da América do Sul.[25] O Plano Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social 2016-2020 teve por objetivo desenvolver a atividade de gás natural através da exploração, industrialização e aumento da geração de energia.[25] No entanto, a produção de gás boliviana vem diminuindo desde 2014, devido a campos maduros e à falta de descobertas recentes.[26] Entre 2014 e 2019, a produção de gás natural diminuiu cerca de 25%.[27] Durante 2019, a Bolívia anunciou uma redução de 30% nas reservas de gás, ao mesmo tempo em que atravessou um longo período de turbulência política que levou muitos países a evitarem contratos de longo prazo.[26][28]
Consumo
O aumento do consumo interno da Bolívia e o declínio da produção geral de gás escassearão as exportações bolivianas de gás até 2025.[26]
Importações e países de origem
A Bolívia começou a importar petróleo bruto devido aos crescimentos súbitos na demanda interna nacional por combustível.[29] A Bolívia importa produtos refinados de petróleo dos EUA, Chile e Argentina, além de importar petróleo.[30] Entretanto, a importação de combustíveis minerais (incluindo petróleo) caiu 42% entre 2019 e 2020, provavelmente devido aos impactos da COVID-19.[31]
Novas fontes e projetos propostos
O campo de hidrocarbonetos Boycobo Sur X1 foi descoberto em dezembro de 2020, com reservas de aproximadamente um trilhão de pés cúbicos.[32] Até o final de 2021, a Bolívia espera a entrada em produção do campo Boycobo Sur X1.[33]
O poço Yarara X1 em Yapacani, Santa Cruz, também foi descoberto em dezembro de 2020, contendo 13,7 milhões de barris de petróleo e 76,8 bilhões de pés cúbicos de gás natural.[33]
Mas novos projetos na Bolívia estão ameaçados devido ao aumento da produção no Brasil e na Argentina.[34]
Transporte
A Bolívia tem uma rede de oleodutos e gasodutos extensa[35][36][37][38], incluindo oleodutos internacionais que facilitam as exportações para os países vizinhos. As exportações de gás da Bolívia para o Brasil (principalmente por meio do Gasoduto GASBOL) sofreram muito devido ao declínio da produção, aumento da demanda interna, turbulência política e impacto do COVID-19.[39][40] O contrato de longo prazo da Bolívia para o fornecimento de gás natural ao Brasil expirou em dezembro de 2019, e a Petrobras (estatal brasileira de petróleo) reduziu seu compromisso de compra do gás boliviano, embora clientes privados no sul do Brasil tenham expressado interesse assumir essa diferença.[41] O contrato do Gasoduto Yabog entre a Bolívia e a Argentina expira em 2026 e não há certeza de que a Argentina continuará o relacionamento.[26]
Energia renovável na Bolívia
O Decreto Supremo 2048 e o Plan para el Desarrollo de las Energías Alternativas 2025, ambos emitidos em 2014, incentivam o desenvolvimento de energia limpa. A Bolívia tinha 30 projetos de energia renovável em andamento em 2018.[42] A energia hídrica constituía, em 2021, a maior parte da geração de energia renovável.[43] A maior usina solar da Bolívia entrou em operação em Ancotanga, Caracollo (em fevereiro de 2021), no planalto que agora contribui para o SIN.[43]
Um estudo de 2021 projetou que a Bolívia poderia atingir 2 GW de capacidade de energia renovável até 2030.[44]
Em março de 2021, o governo boliviano introduziu o Decreto Supremo 4477, que permite aos proprietários de pequenos sistemas de energia renovável gerada e distribuída (principalmente solar) vender o excesso de energia para a rede.[45]
A Bolívia pretende expandir seu setor de energia renovável com novos projetos, mas em novembro de 2021 não divulgou detalhes.[46]
Lítio
Uma planta piloto de extração de lítio começou a operar em dezembro de 2021.[47] O Ministério de Hidrocarbonetos e Energia declarou em 2022 que o lítio será um pilar da economia boliviana nos próximos anos com aproximadamente 21 milhões de toneladas de lítio no Salar de Uyuni.[48] A indústria de extração de lítio está impactando o abastecimento de água, a vida selvagem e a indústria do turismo.
Ferro e aço na Bolívia
A indústria do aço na Bolívia teve várias largadas falsas, principalmente devido a preocupações com o meio ambiente.[49] O Plano Siderúrgico Nacional, instituído em 2014, tem como foco o desenvolvimento e o investimento na indústria do aço, além da logística de exportação dos produtos.[49] Em 2018, a China investiu quase US$ 400 milhões na indústria siderúrgica boliviana.[50] A indústria do aço gera aproximadamente 4.500 empregos diretos e indiretos.[50] A ESM (Empresa Siderurgica del Mutún) é a empresa estatal de produção de minério de ferro e aço, com exportações expressivas para a Argentina e a Alemanha.[51] A mina El Mutún está fora da rede elétrica principal e usa uma solução de energia localizada, com motores a gás para fornecer energia aos equipamentos.[52]
Impactos ambientais e sociais da energia na Bolívia
A constituição da Bolívia garante o respeito à Pachamama (Mãe Terra).[53] Mas a extração de recursos na Bolívia tem sido muito destrutiva para o meio ambiente, por exemplo com a abertura de territórios protegidos para a prospecção e exploração de petróleo e gás.[54] Devido à grande quantidade de água usada pela indústria de mineração, a mineração tem sido responsabilizada pelas condições de seca. Diariamente, o setor usa a água que toda a capital La Paz usa em dois dias.[55] Os grupos étnicos em áreas isoladas estão particularmente vulneráveis aos problemas relacionados com a escassez de água em todo o país.[56] A exposição a minas também coloca as comunidades em risco devido à contaminação de campos agricultáveis.[57] Conservacionistas e ambientalistas na Bolívia têm se tornado mais ativos na tentativa de proteger as terras bolivianas em relação aos impactos prejudiciais do legado do presidente deposto Evo Morales.[58]
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